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Centro de polêmica, argentino do TUF paga paixão: 'Amo o Brasil'

Santiago Ponzinibbio quer inspirar lutadores de seu país, mas seguir na 'casa adotiva', e lembra ralação ao imigrar: 'Tudo era culpa do argentino'

Por Rio de Janeiro

Santiago Ponzinibbio TUF Brasil argentino UFC MMA (Foto: Getty Images)Santiago Ponzinibbio precisou ralar para se
sustentar no Brasil (Foto: Getty Images)

A entrada do argentino Santiago Ponzinibbio na casa da segunda temporada do The Ultimate Fighter Brasil - Em Busca de Campeões gerou muita polêmica entre os fãs brasileiros de MMA, que reclamaram de um estrangeiro estar ocupando a vaga de um compatriota no programa. Ponzinibbio espera, aos poucos, conquistar os detratores, assim como conquistou os colegas de treino e de trabalho desde que chegou ao Brasil, há cerca de quatro anos, e assim como o país o conquistou. Hoje, o platense de 26 anos não se vê em outro lugar que não Florianópolis, onde criou sua vida e evoluiu como lutador.

- Minha namorada é brasileira, treino aqui, tenho grandes amigos que acreditam em mim, então amo este país. Amo a Argentina, mas amo o Brasil também, pois é um país que está me dando oportunidade de trabalho. Entrarei no TUF para fazer meu trabalho e ganhar o que é meu. Depois que apareceu essa oportunidade, quero ser campeão dessa parada, porque é meu objetivo entrar no UFC. Gosto da vida aqui, nem penso mais em voltar para a Argentina. Estou super bem e quero fazer minha carreira aqui - afirma Ponzinibbio.

FICHA DO LUTADOR  
Nome Santiago Ponzinibbio
Local de nascimento La Plata (ARG)
Idade 26 anos
Altura 1,80m
Cartel 18v-1d

Esse amor pelo Brasil foi construído através de muita ralação. O lutador veio para o país de férias, para passar um mês, e, disposto a fazer carreira no MMA e evoluir tecnicamente, decidiu ficar. Montou uma barraca na praia e, para se manter, improvisou: fez massagem na praia, vendeu sanduíches de frango, fez artesanato, vendeu cerveja durante o carnaval... Quando começou a aprender português, se ofereceu como freelancer para ser auxiliar de copa, auxiliar de cozinha, garçom e barman em bares e restaurantes de Florianópolis.

- Foi uma loucura, porque não sabia fazer drinques, mas disse que sabia. Mentira, baixei as receitas na internet, carregava debaixo do braço e tinha que olhar várias vezes para fazer. Quando trabalhei na cozinha, era algo simples, tinha que fazer pastel, salada, mas eu não sabia nada. Falei para o dono: "Se você me ensinar, eu consigo fazer". Aprendi rápido - conta.

Santiago Ponzinibbio já lutava MMA profissionalmente na Argentina e venceu suas seis primeiras lutas. Quando chegou ao Brasil, porém, viu que seu kickboxing e pouco conhecimento de chão eram insuficientes para ter sucesso. Ele conseguiu um acordo para treinar de graça numa academia de Florianópolis após conhecer o dono na praia, usando uma camisa de jiu-jítsu. A recepção que recebeu no tatame não foi nada amistosa.

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- Foi bem doido. Não sabia falar o idioma, não tinha dinheiro, estava num país com uma cultura diferente. Quando cheguei na academia, eu era um argentino f***, sem saber nada nem conhecer ninguém. Quando cheguei, o cara juntou o time e falou, "Chegou um argentino para treinar com a gente, vamos botar o pau no gato". Eles enfiaram a porrada em mim, era "porrada no argentino"! Eles me bateram tanto, todos os dias. Eu cheguei da Argentina invicto, achando que era o bom... Minha confiança foi lá embaixo, eu só tomava surra, foi f***! No trabalho, qualquer problema era "culpa do argentino"; na luta, me enfiavam a porrada, não tinha amigos. O começo foi punk.

A dedicação de Ponzinibbio, porém, foi conquistando o respeito dos colegas de treino. O platense trabalhava 14 horas por dia e ainda encontrava disposição para fazer três treinos seguidos. Se não tinha tempo para ir à academia, corria na praia ou na rua. Aos poucos, foi criando amigos, conseguindo lutas e oportunidades. Logo, estava dando aulas de boxe e, há um ano e meio, arrumou patrocínio que o possibilitou se dedicar exclusivamente à luta.

É essa mesma garra que o empurrou para frente que ele vê como grande qualidade capaz de originar lutadores de alto nível no MMA argentino. Segundo Ponzinibbio, a modalidade já está explodindo em popularidade também no país vizinho, mas ainda falta técnica de solo para que seus atletas possam realmente se destacar no cenário internacional.

- Tenho certeza que a Argentina é um país com muita matéria-prima, com bons atletas, mas falta escolinha. Falta conhecimento de jiu-jítsu, de ground and pound, posicionamento no chão. Tem muita trocação, muito boxe, mas pouco de chão. Se o argentino trabalhar bem no chão, vai sair muito lutador de qualidade, pois tem muito cara "braçudo", muitos caras de coração, muito raçudos. Tem qualidade, mas tem que ser melhor trabalhada. Quando eles vêm competir aqui, o nível é muito superior. Está faltando conhecimento técnico - analisa.

No futuro, se conseguir o objetivo de vencer o TUF e ser campeão do UFC, o platense pensa em abrir academias e escolinhas em seu país de origem. Por ora, segue apaixonado pelo Brasil e disposto a mostrar, no reality show, que a rivalidade do futebol não precisa entrar dentro do octógono.

- Sei que tem uma rivalidade do futebol, mas sou muito grato ao Brasil. Todo mundo está falando para "meter a porrada no argentino", mas todos vão ver e vão gostar, porque sou uma pessoa respeitosa, mas dou o sangue. Acho que as pessoas gostam de ver isso. Acho que vai ser bom porque vão quebrar o preconceito, vão ver que argentino não é todo safado, prepotente, arrogante. Claro que tem argentino assim também, mas em todo país tem gente desse tipo - concluiu.

banner ufc combate (Foto: GLOBOESPORTE.COM)